Crises e devaneios de uma pessoa com acúmulo de funções....

Monday, August 13, 2007

Fazer o quê?

Ando num momento profissionalmente estranho: não consigo me imaginar em outras carreiras, gosto do que eu faço (meu trabalho me dá um retorno emocional positivo - somente por parte dos meus alunos), mas simplesmente não consigo mais aturar o estado em que a educação - e a falta de educação - chegou.
Trabalhando que nem uma condenada, aguentando grosserias, perseguições e falta de salário (ah, amigos, sei que vocês que me acompanham no último ano já estão com os bagos arrastando no chão de tanto que me ouvem falar nisso!), com mais ou menos 100 provas para corrigir por semana, fazendo hora extra sem saber se vou receber... AFF!

Tem horas que eu até consigo achar engraçado, porque é realmente muito esdrúxulo. Eu acharia graça o tempo todo, se não fossem as porras dos cobradores me lembrando das contas a pagar, sabe? Porque é engraçado! Ou melhor, seria - se fosse com outra pessoa!
Olha, eu não escolhi minha profissão a toa, sabe? Foi uma escolha consciente, eu imaginava o perrengue que era estar em sala de aula (não fazia idéia de que o perrengue maior é estar com as mães das crianças), eu sabia que ia ganhar mal e tudo. Mas eu não consigo imaginar uma maneira mais eficaz e pacífica de marcar minha passagem, de fazer alguma diferença nesse mundo. Eu tenho contato com um grupo de crianças privilegiadas - não por serem meus alunos. Mas por estarem em um espaço que os influencia a crescer como seres humanos pensantes, conscientes, racionais e emocionais. Porque é possível ser tudo isso junto! Talvez também sejam privilegiados por terem contato comigo (porque não posso negar que me acho uma ótima profissional): quando uma criança de 8 anos pensou em ler Mafalda e ouvir Led Zeppelin na escola? Quantas as crianças de 8 anos que conhecem Rolling Stones porque a professora achou que seria interessante mostrar um pouco mais de música? Quantos são os que sabem quem foram os Beatles*, o que eles significaram mundialmente? Que tem a possibilidade de ouvir sobre Van Gogh e Andy Warhol, tudo dentro de uma sala "tradicional"?
Eu sou igual a eles. Não na idade, ou na maturidade. Mas eu tenho a mesma sede de mundo, quero chão, quero conhecimento... e quero que eles me ensinem! Sabe aquela coisa de se alegrar com o sorriso do outro? (Ouve um tempo que eu falava para um cidadão que seu sorriso me dava vontade de chorar, de tão feliz que eu ficava... CARALHO! Eu tenho mais de 21 sorrisos assim todos os dias!)
Realmente acredito no que faço, sabe? E acho que se for para ganhar mixaria, ganhar piso, salário mínimo e o que for para ser, eu vou ganhar. MAS NÃO VAI SER EM ESCOLA DE MADAME! Eu vou ganhar salário mínimo sendo feliz, na comunidade, no morro. Porque lá eu posso não ser recompensada financeiramente, posso não ganhar presentes bonitos, mas vou crescer mais ainda com meus alunos, e vou ser um diferencial.

Não sei porque estou falando isso tudo aqui. Acho que quando eu penso em "crise profissional" eu preciso ser advogada do meu trabalho, para que consiga me justificar em insistir nessa carreira. Porque ainda há muito chão pela frente. Eu ainda irei me orgulhar de ser "subversiva" e apresentar muito rock´n´roll para a molecada, se eu achar que eles pedem por isso. Ainda irei usar muita Mafalda para incentivar o gosto pela leitura, e usar mais ainda a arte - minha paixão - para mostrar que existem várias maneiras de falarmos o que queremos e mostrarmos o que sentimos....
Sou nova demais para esse tipo de crise, sabe? Mas acho que precisamos repensar nosso caminho o tempo todo, para que não tenhamos que olhar para trás com arrependimento por termos escolhido caminho errados.... Eu hoje digo:
Apesar de salários atrasados, apesar de contas vencidas, apesar de cansada e cheia de provas para corrigir, apesar de ter que aturar mãe mala de perseguição comigo....

Meu trabalho vale a pena.

Talvez amanhã eu discorde disso e mude meu rumo. Mas eu não vou ter me arrependido de viver o que vivo hoje.....

"Quero ser lembrado como alguém que amou a Terra"
(Paulo Freire)

1 comment:

Anonymous said...

em que colégio d madame você dá aula?